Lamentações eternas...

Ela sempre será a referência da perfeição. A sua beleza é suave e tranqüilizadora como um silêncio oportuno. As minhas lamentações agora se igualaram ao meu apreço por tamanho sentimento de ternura. A sua imagem dedilhando o instrumento se tornou o preenchimento da minha mente condenada ao vazio.
Por muito tempo eu desejei ter coragem de olhá-la e saber que o inverso também ocorria. Desejei ter a oportunidade de quebrar o campo que nos separava mas que ao mesmo tempo nunca existiu. Ela sempre esteve lá nos palcos. E eu sempre estive apreciando-a. Por tanto tempo que já não me lembro a primeira vez que senti paixão. Muito menos quando essa paixão se tornou amor.
Crueldade é o cartão de visitas do meu destino.
Numa noite cuja data não tem mais importância, meu coração finalmente se dispôs mais que qualquer razão e me guiou até o concerto para olhá-la nos olhos e falar o que só ela poderia ouvir de mim. Em vão meu coração batia depressa. Em vão meu coração batia pela última vez.
Hoje choro não porque perdi a oportunidade de tentar ser feliz, mas porque nunca mais vou tê-la.
O meu destino e seus comparsas mais uma vez, como uma onda sem fim, um cotidiano depressivo, cruzaram meu caminho. Sim, aquelas criaturas malditas arrancaram a única faceta humana que se enterrava em mim e por isso eu lamento. Justo naquela noite. Meu coração sentiu por ter dado o impulso tão tarde.
Agora não há mais tempo. Não há mais início, meio ou fim. A eternidade me prendeu na lembrança daquele fatídico “Jesus, A alegria dos homens” de Johann Sebastian Bach.
Os carniceiros queriam o sangue da minha rosa formosa. Mas eu nunca deixaria isso acontecer como não deixei.
Em toda a minha existência eles me cercaram e eu os espantava como pássaros fugindo de um felino faminto. Suas penas na maioria das vezes eram seus restos. Mas nessa noite não. Consegui para minha rosa mais um pouco de caminhada livre mas o pagamento foi o meu próprio fôlego. Aquele que se intensificava cada vez que sua imagem invadia minha alma. Nunca mais.
Aquela noite deveria acabar ali como a minha vida, mas de alguma forma ela nunca terminará. Não me lembro de nada que tenha me deixado assim inerte à existencia comum. Mas eu me lembro dela e sua música. Me lembro que terei que apreciá-la sempre de longe e que nunca mais poderei tentar um único abraço. Não obstante, minha lamentação não esta fundada apenas nesse sentimento, afinal eu ainda me lembro deles e isso me faz entender por que existe cumplicidade entre a vingança e o amor.

“(...) Minha queda será por você
Meu amor estará em você
Se quem me cortar for você
Sangrarei eternamente
O cheiro do mar
Antes do despertar do mundo
Leva-me até você
Até a memória em azul (...)”

Ghost love Score (Nightwish)